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Casa de Criadores, 04 de Julho 

Ana Laura Seren | @alauraseren

10 JUL 2019 - 12H40

Renata Buzzo:

A estilista vegana apresenta sua coleção, onde fala sobre redescobertas.

As crianças nascem puras, com personalidade esférica, e acabam abandonando suas convicções por causa das imposições da sociedade.

 

Durante sua vida, sua adolescência e sua trajetória, acabam se tornando planas, caricatas, sem profundidade. É sobre essa narrativa que Renata Buzzo se debruça em sua nova coleção.

“Quando eu era criança, tinha um quadro de pierrot na casa da minha tia. Ele me assustava, mas eu acabei virando ele”, explica a estilista no backstage. Buzzo conta que perdeu seu caminho na adolescência, se tornando caricata, como um palhaço triste, o pierrot.

 

As formas amplas e os dapreados que decoram as roupas refletem os caminhos errados que as pessoas precisam chegar para encontrar a si mesmos. Esse encontro, muitas vezes, é uma volta ao original, à infância.

Jorge Feitosa:

A coleção de Jorge Feitosa foi inspirada em seu pai, o que tornou o desfile emocionante. “Peguei um retrato do meu pai bem tradicional do Nordeste e usei várias referências do que ele gostava nas minhas estampas”, conta o pernambucano.

O desfile foi dividido em quatro blocos de cor: branco, rosé, azul marinho e preto. O branco e o preto falam dos contrastes de uma personalidade plural e sobre a imagem que tinha de seu pai. Os tons de rosa e azul remetem à relação um pouco conturbada que eles tinham. “Meu pai amava andar de bicicleta, era poeta, jogava damas e era muito místico”, lembra, elencando várias de suas preferências e gostos. “Mas acho que ele nunca me entendeu ou nunca nem tentou”.

Formas amplas e patchwork, marcas do DNA de Jorge, aparecem em abrigos, casacos com franjas, camisas com gola-laço, saias de renda e moletons de zíper.

Martins:

Muito antes de serem vistas como uma estampa comum, as listras se remetiam aos presos, prostitutas, doentes, loucos e até palhaços. No livro “O Pano do Diabo”, em que Tom Martins se inspirou para sua nova coleção, o autor Michel Pastoureau traça a história das listras até o século XX, quando foi transformada em estampa-fashion por Coco Chanel.

O visual desses excluídos da sociedade foi o ponto de partida da marca para criar esta coleção. Faixas soltas davam o ar de camisa de força e os chapéus redondos reforçavam a ideia de desmarginalizar a imagem dessas pessoas.

Reptilia:

A inspiração desse desfile vem da artista e escultora Maria Martins. A carioca, que morreu em 1974, abriu as portas para outras artistas surrealistas no Brasil, além de ser sido musa e amiga de grandes nomes da arte como Duchamp e Picasso.

 

Essa história, infelizmente, não é vista nas roupas desfiladas — um problema enorme, já que as peças sozinhas não têm sentido e não contam uma narrativa por si só.

David Lee:

O estilista cearense David Lee estreia na passarela da Casa de Criadores com sua investigação sobre força, masculinidade, crochê e alfaiataria. Destaque da marca, o crochê é o elemento mais interessante de seu trabalho. Isso porque pegar um elemento antes associado exclusivamente a mulher e transformá-lo em uma peça de moda masculina fala muito sobre a masculinidade tóxica cultivada na sociedade hoje em dia.

 

Os tons primários escolhidos para esses tricôs dão um ar lúdico, quase infantil, às peças, o que também agrega à conversa sobre masculinidade.

Weider Silveiro:

A desfile de Weider Silveiro foi inspirado na Grécia e na coleção do estilista Anastácio Jr sobre o tema.

“Tentei dar meu olhar à uma estética que ele gostava e reinterpretar agora, em 2019”, explica o estilista no backstage. Silveiro usa dos plissados em calças, camisas e vestidos para emular os drapeados das estátuas gregas.

 

Misturando essa referências ao streetwear, constrói calças e saias clochard jeans em looks monocromáticos. Esse mix entre uma moda de rua e outra mais elegante é o ponto alto dessa coleção.

Com casting 100% negro, Weider desafia as imagens da época. “Nunca entendi porque as mulheres negras não eram representadas nas pinturas e esculturas gregas, sendo que a África fica ali do lado. Não existiam negros na Grécia antiga? Qual era o papel da mulher negra nessa sociedade?”, questiona. Apesar de um viés político, que sempre faz parte de seu trabalho, o estilista diz que a escolha é mais estética, é um treinamento para tirar o preconceito estético do nosso olhar.

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