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Gêmeas viram ícone de moda da favela brasileira

Ana Laura Seren | @alauraseren

15 JUN 2019 - 09H06

As moradas da favela do Jardim Peri, Tasha e Tracie Okereke de 22 anos, são gêmeas, negras e têm uma paixão em comum pela moda. Em janeiro de 2014 elas criaram juntas o blog Expensive $hit.

Tudo começou quando ganharam uma blusa de presente e decidiram cortá-la em formato de um cropped, para combinar mais com seus estilos.

A partir daí, passaram a garimpar roupas em brechós e transformá-las em peças com suas identidades.

"Quando queríamos uma estampa, a gente escrevia com caneta", assim não havia custo para customizar.

(Foto: Reprodução/Expensive $hit)

Sem internet em casa, a dupla usou o computador de um tio para começar o projeto e utilizavam as lan houses para subir os arquivos. Fizeram as primeiras fotos na cozinha de casa, tendo a proposta de mostrar que é possível se vestir bem, gastando pouco.

Desde o começo, o blog fez sucesso entre jovens de periferia, que podiam encontrar ali editoriais de moda, com looks extremamente baratos. Logo, elas também passaram a promover festas e conquistaram o reconhecimento. Foram procuradas por algumas marcas e desenvolveram diversos projetos focados em valorizar a auto-estima da mulher negra, quais foram apoiados por marcas como Nike e Melissa.

Depois de um passado marcado por complexos e preconceitos, hoje a vida dessas irmãs mudou. Não precisam mais trabalhar de camelô, têm dinheiro para fazer compra no mercado, além de serem consideradas a It-Favela (referência de moda das comunidades) do Brasil.

(Foto: Reprodução/Expensive $hit)

As meninas contam que o gosto pela moda, especialmente pela  moda africana, já estava presente em suas vidas por influência do pai nigeriano e por inspiração em cantores como Tupac, Snoop Dog e Diana Ross.

"Os pretos do Brasil precisam de autoestima para poder se impor e desenvolver as coisas", diz Tracie. E é com conhecimento de causa.

"Todo mundo ama nossa cultura, mas ninguém quer ver a gente vestindo a nossa cultura. Eles preferem pegar uma pessoa branca e pintar de preto do que chamar quem realmente criou", explica Tasha e completa: "Quando a indústria convida a gente para participar de alguma coisa, querem higienizar a gente. Querem nossa influência (negra, da favela, de origem africana), mas não quem somos de verdade".

(Foto: Reprodução/Expensive $hit)

Além do blog, as gêmeas seguem fazendo eventos nas quebradas de São Paulo. Elas têm o propósito de levarem cultura e moda para a periferia, afim de que o dinheiro volte para a favela e todo mundo enriqueça.

O próximo sonho da dupla é lançar uma marca própria e olhando a trajetória delas, vai ser mesmo só uma questão de tempo.

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